FILIPE IV TEMÁTICA Velásquez pintou por volta de 1656 este busto de Filipe IV. O monarca seria retratado pelo artista em numerosas ocasiões. O cargo de Pintor de Câmara do Rei e de Aposentador Maior do Palácio permitiram ao mestre tratar com freqüência o modelo. Durante seu reinado, a Coroa dos Áustrias espanhóis começaria um declive que já não teria volta atrás. Sua personalidade um pouco débil propiciou a tomada do poder pelo Conde-Duque de Olivares até os anos quarenta. Há que assinalar o bom gosto que ele tinha para a música e para a pintura. De fato, ele era aficionado aos pincéis, tendo recebido classes de alguns de seu pintores de Câmara. O autor mostra aqui a imagem de um homem já maduro. Ele está vestido segundo a moda discreta e elegante dos cavalheiros castelhanos. De seu pescoço pende o Toisón de Ouro. Esta medalha era uma distinção da qual desfrutavam os Habsburgo, desde a época do Imperador Carlos V. É símbolo de uma Ordem Militar do século XV, à qual só podiam pertencer as linhagens mais poderosas da Europa. Sua posse era ambicionada por todas as casas reais européias. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA Velásquez retrata Filipe IV, quase de meio corpo, sem que se vejam suas mãos. O artista confeccionou umas seis telas de motivo e estrutura similares. Em duas delas aparece também o colar do Toisón. A figura tem como cenário um fundo escuro e impreciso. Sua silhueta não se funde totalmente com o cenário. Um traço negro e prolongado percorre o perfil de seus ombros, destacando-o do espaço em que está inserido. O artista se concentra no rosto do modelo. Este apresenta uma atitude grave e distante. Isso é próprio de seu posto e da intenção da obra. A luz incide arbitrariamente sobre a cara do monarca, matizando o brilho do seu cabelo e da pele de sua face. Os dourados de seu traje contrasta com o negro geral. A escuridão é a tônica cromática dominante. Somente é interrompida pelo brilho do colar e dos adornos das mangas. A isso se soma os rosas e dourados do rosto. A pincelada empregada é brilhante nos toques de ouro de sua vestimenta; mas, por outro lado, faz-se mais longa e espessa na qualidade das telas. INTERPRETAÇÃO Esta obra é considerada a mais significativa dentro do conjunto de seis telas nos quais o rei aparece retratado em tamanho busto. Este tipo de obras tinham um claro sentido político. Não iam destinadas a um âmbito privado. Tratavam-se de retratos oficiais. Seriam colocados em aposentos oficiais, ou eram enviados como presentes diplomáticos a outras casas reais européias. Tal é o caso de uma réplica bastante similar, que se conserva no Museu de Viena, que foi oferecida ao Arquiduque Leopoldo Guilherme de Áustria. Às vezes, a autoria desta série de quadros foi discutida pelos historiadores. A questão fundamental era determinar se se tratava de pinturas realizadas exclusivamente pelo sevilhano ou se eram obras de ateliê. A que aqui se oferece é considerada a mais importante do conjunto. O detalhe do Toisón causa um grande efeito e anima o tom geral da representação.